MARCO ASFORA FALA SOBRE A PARTICIPAÇÃO DELE NA FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO ABSOLUTO E SOBRE VIDA DEDICADA AO XADREZ
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MARCO ASFORA FALA SOBRE A PARTICIPAÇÃO DELE NA FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO ABSOLUTO E SOBRE VIDA DEDICADA AO XADREZ

*Por Gabriel Couto

O xadrez, conhecido como o jogo dos reis, tem um fiel representante no Mestre Fide (MF) Marco Antônio Hazin Asfora. Com uma trajetória marcada pela paixão desde a infância e uma vida dedicada ao xadrez, Marco Asfora se tornou uma figura proeminente no cenário enxadrístico não apenas em Pernambuco, mas em todo o Brasil. Nós falamos com Asfora, e ele compartilhou suas experiências e reflexões sobre sua carreira de 60 anos dedicados ao xadrez.

1) Como você começou sua trajetória no xadrez e o que o motivou a se tornar um dos grandes divulgadores do esporte no Nordeste?
Marco Antônio Hazin Asfora: Comecei a jogar xadrez porque eu tinha um tio, Eduardo Asfora, que era campeão nacional de xadrez. Foi um dos maiores jogadores do Brasil. E, através dos ensinamentos dele, eu comecei a jogar. O que me motivou a jogar e ser um grande divulgador do xadrez, é porque jogo xadrez desde os 7 anos, então logo no início de minha carreira eu fui tetracampeão pelo salesiano, tetracampeão na universidade e essas vitórias me motivaram a entrar na vida do xadrez, o xadrez tem vida. E aí foi uma paixão que não terminou, são 60 anos trabalhando só de xadrez e essa é uma paixão que não vai terminar nunca.

2) Atualmente, quais causas relacionadas a xadrez você está inserido? Tem algum projeto para o próximo ano?
Asfora: Bem, eu fui presidente da Federação Pernambucana de Xadrez diversas vezes, depois fui presidente também da Confederação Brasileira de Xadrez, atualmente sou vice-presidente da Confederação Brasileira de Xadrez. E essa atividade, essa paixão que eu tinha pelo xadrez me levou a fundar, em 1990, a Academia Pernambucana de Xadrez. Foi uma instituição que ajudou muito o xadrez aqui em Pernambuco. (…) Olha, eu fui a pessoa aqui em Pernambuco que mais fez torneios e grandes torneios; eu introduzi no Brasil uma coisa fantástica. Antigamente, o xadrez era jogado só amadoristicamente. Eu introduzi e comecei a colocar prêmios nos torneios. Primeiro lugar ganha X, segundo lugar Y… E a coisa pegou no Brasil todo. (…) Sabe, atualmente, eu já tenho 77 e já não tenho mais aquele vigor físico. Claro que eu gosto do xadrez. Mas eu estou um pouco assim… Escanteado. Antigamente, eu tinha muito apoio das instituições aqui em Pernambuco, né?! Eu saí pelo interior, dando simultânea e jogando. Ainda poderia fazer isso, mas… As instituições não estão mais me considerando. Acham que eu estou velho, que eu não sei mais nada. Sei lá. É difícil… Enfim, eu sou vice-presidente da confederação… esse campeonato agora do dia de hoje (13) que começa. É por causa de mim, porque o pessoal tem muito respeito a tudo aquilo que eu fiz pelo xadrez pernambucano e pelo xadrez brasileiro também.

3) Como você conciliou suas responsabilidades de engenheiro com as de jogador e divulgador do xadrez?
Asfora: Eu comecei só a divulgar o xadrez na segunda parte da minha vida, porque o xadrez cansa muito, dizem que xadrez é para jovens… mas então quando eu tive mais idade, lá nos anos 90 e tantos, eu comecei mais a gerir o xadrez com a academia, com a fundação da biblioteca no estado, porém jogava também, mas menos que antes. Joguei mais na década de 70 e 80, depois fui só gerenciando.

4) Qual foi a partida mais desafiadora e memorável que você jogou ao longo de sua carreira no xadrez?
Asfora: Tenho uma partida que foi jogada em São Paulo, em 1992, com a Acyr Calçado. É uma partida fantástica. Essa partida foi jogada durante quase um dia. Você tem ideia? E foi a partida mais longa que já teve aqui no Brasil. Foi recorde. Essa partida eu não me esqueço nunca. E aconteceu um final muito interessante. Eu ganhei a partida, e foi um final que eu tinha Bispo e Torre contra Torre. É um final muito complicado. (…) Até hoje eu não me esqueço dessa partida… Agora, é interessante que ontem eu estava vendo aqui um vídeo jogado pelo Karpov, que caiu no mesmo final que eu tinha caído. E Karpov ganhou também. Porque a defesa desse final é muito difícil. E aí o Karpov ganhou também essa partida. Vi isso ontem na televisão aqui. Foi muita coincidência. A tua pergunta caiu agora no momento certo. Obrigado.

5) Como você se preparou para este torneio absoluto? Jogar partidas duplas e durante a noite afeta seu estado mental e físico?
Asfora: Eu não me preparei, não me preparei porque não estou muito legal de saúde… vou participar mais como objetivo de marcar mais um campeonato brasileiro. Vai ser o meu vigésimo quarto final de campeonato brasileiro e isso é um recorde. Vou jogar mais esportivamente. Vou jogar a primeira partida, se cansar não jogo a outra e volto na terceira, entende? Vai ser uma participação bem fácil para mim, porque aguentar 6,7 horas numa mesa, eu não aguento mais. (…) então é mais por isso que estou participando. E gerenciando também como vice-presidente da confederação.

6) Pode compartilhar um pouco sobre suas conquistas mais significativas no xadrez?
Asfora: No ano de 1977, estive na final do brasileiro foi em Curitiba. E lá em Curitiba, tinha a semifinal com todos os Mestres, menos o Sunye, que não participava, porque era campeão do ano anterior. E eu ganhei a semifinal, em cima de todos eles. E eu parti para a final. E quando eu comecei a jogar a final, eu saí ganhando de todo mundo, mas quando chegou na parte final, eu acho que eu tremi na base, porque eu era amador. Os homens eram todos
profissionais. E eu perdi duas partidas completamente ganhas. Se eu ganhasse uma delas, eu seria campeão brasileiro absoluto. (…) Tive muitas boas críticas e foi esse campeonato de 1977 que mais me marcou, num cenário brasileiro. Eu não esqueço nunca de ter perdido esse campeonato absoluto.

7) Como você vê o cenário atual do xadrez no Nordeste em comparação com os anos anteriores?
Asfora: O que eu vejo no cenário agora foi que modificou muito. Tem muita gente boa em Pernambuco. Tem o Yago, que é Grande Mestre, tem o Tiné que é muito bom também, tem o Calheiros, tem o Rafael Cabral, tem o Benone que desapareceu um pouco e tem o atual campeão pernambucano também, que lembra meu netinho, o Erick; então tem muita gente boa no xadrez. Todos esses jovens que hoje jogam, foram frutos dos nossos trabalhos anteriores, pelo o que fizemos nas escolas e nos clubes, então vejo um cenário muito promissor do xadrez pernambucano com muita gente nova e isso me alegra bastante.

8) Pode compartilhar alguma experiência ou lição valiosa que tenha aprendido ao longo de sua carreira no xadrez?
Asfora: Eu acho que o que me fez muito conhecido no xadrez, o que me motivou mais, foi minha paixão pelo xadrez. (…) Eu colocava o xadrez sempre em primeiro lugar. Embora sendo um amador, é incrível isso. Naquela época, que eu comecei, tinha muitos ótimos jogadores aqui. Tinha o Dr. Gilvan Thompson, o Dr. Milton Tavares, Eduardo Asfora e Luiz Tavares. E o pessoal me incentivava muito e diziam “manda esse menino para a Europa”, mas meu pai não deixava, e hoje eu agradeço a ele, porque tudo deu certo na minha vida. Então, talvez, dos amadores, eu fui o número um do Brasil. Porque eu nunca joguei xadrez profissionalmente.

A vida de Marco Antônio Hazin Asfora é um testemunho de dedicação e paixão pelo xadrez. Sua trajetória, marcada por títulos, fundações e inovações no esporte, reflete não apenas suas habilidades como jogador, mas também seu comprometimento como divulgador. Mesmo enfrentando desafios, sua influência perdura, moldando o cenário do xadrez no Nordeste. A participação no torneio absoluto, aos 77 anos, ressalta não apenas sua resiliência, mas seu papel contínuo como figura central no xadrez brasileiro. Marco Asfora é mais do que um enxadrista; é um ícone que deixou um legado duradouro no tabuleiro e na comunidade enxadrística.

Hoje (13) teremos o início da final do 89º Campeonato Brasileiro Absoluto de Xadrez.

*estagiário sob supervisão

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Fonte:
Redação TV Nova
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Reprodução| Redes Sociais