Mansão construída em 1847 por Henry Gibson, é hoje o casarão mais amado da capital pernambucana
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Mansão construída em 1847 por Henry Gibson, é hoje o casarão mais amado da capital pernambucana

                                                                   Tec – espátula. Wagner Santos

    Indiscutivelmente, trata-se de uma linda mansão que foi construída em 1847 por Henry Gibson, apesar de que foi criticada pela imprensa da época que a considerava “uma construção de mau gosto”   –   Diário de Pernambuco, 12 de novembro de 1855.

O projeto obedece ao estilo neomanuelino, ou neogótico, que foi uma tendência de renascimento do estilo gótico inglês adaptado ao gosto português. A Mansão é referência de um estilo e trata-se de um dos poucos edifícios neomanuelinos construídos no Brasil e o único de importância que tenha sido erguido no Brasil por um particular.

   Nos informa a Wikipedia:  “No Brasil também há edifícios neomanuelinos, geralmente ligados a instituições fundadas por imigrantes portugueses. Exemplos são o Real Gabinete Português de Leitura (1880-1887) e o Liceu Literário Português, no Rio de Janeiro, o Centro Português de Santos (1898-1901), o Gabinete Português de Leitura em Salvador da Bahia (1915-1918), a mansão Henry Gibson, erguida em 1847 no Recife (Pernambuco) e alguns outros.”

 

Sobre a casa, Gilberto Freyre em seu livro “Assombrações do Recife Velho”  faz referência à mesma informando tratar-se da residência de um velho capitão de navio aposentado.  Grande equívoco! Ele interpretou erroneamente a presença no jardim da casa, do mastro de um dos navios do Henry que ficou “perdido” por algum tempo, na volta de uma viagem à Liverpool, carregado de produtos industrializados – pagamento recebido pelo algodão que Henry exportava. Tenso, ele ia sempre ao porto (seu estabelecimento comercial era próximo) e ao avistar o mastro (naquela época se reconheciam os navios pelo mastro pois eram os primeiros a ser avistados na linha do horizonte) sentiu-se, segundo Luis Milet, “salvo de uma bancarrota”. Foi, segundo ele, uma das visões mais agradáveis que teve na vida e por isso Henry preservou o mastro do navio no jardim de sua casa. Com a saida dos Gibsons da residência, o mastro foi levado para o “The British Country Club”, onde permaneceu durante anos próximo a portaria do Clube. Hoje não mais se encontra lá e poucos sócios se lembram dele. Não se sabe o que aconteceu com o mastro. Como o clube foi fundado em 1920, acreditamos que ele saiu dos jardins da Mansão quando da chegada da família Batista da Silva.

 

Ainda segundo Gilberto Freire, nas noites escuras do Recife velho, se avistava um marujo que segundo ele, certamente era inglês, no topo do mastro. GF também relata aparição de um fantasma inglês para uma menina.

 

 

 

Podando as àrvores do jardim da casa com um facão, Henry amputou um dos dedos da mão. Ao atender os gritos de ajuda do marido, Alexandrina – grávida de Alice, tombou das escadarias da mansão. Culpa-se esta queda ao fato de Alice ter sido paralítica mas como médico, acredito em Paralisia Infantil (Pólio), mal para o qual não existia vacina na época, ao invés do traumatismo.

No Jornal do Recife de 1875, um anúncio sob o título LEILÃO, informava que no dia seguinte seriam leiloados pelo agente Pinto, 08 imóveis “de terrenos, sítios e prédios em chão próprio”. Acredito serem todos estes imóveis, nominados na relação, de propriedade dos herdeiros de Henry. Na relação estão estes dois itens: “uma parte do engenho Forno da Cal” e também “uma parte da grande casa e sítio na Ponte D’Uchoa, do finado Henry Gibson”.

 

 

Prédio de antiga companhia de navegação, localizado no Marco zero do Recife dotado de torre para observação dos navios que se aproximavam do porto

Imediatamente depois da saída dos Gibsons da casa, segundo a imprensa de então, nela funcionou o Internato Pernambucano, considerado “o mais aristocrático colégio da época”, sob a direção do professor Manoel Alves Viana, no então governo do Barão de Lucena.

 

 

 

 

 

Há várias décadas a casa pertence a família Batista da Silva, que procedeu uma reforma, acrescentando um segundo piso nas laterais da construção, igualando-os com o bloco central da casa. Mas tiveram o cuidado de preservar o estilo. Na minha opinião, ficou ainda mais bonita, mais imponente. Aliás, é digno de elogio o cuidado que a familia Batista da Silva tem com a casa, preservando-a.

 

Sobre esse bloco central da casa, acredito na possibilidade de que uma das funções do mesmo era proceder a defesa da residência, como existente na casa anterior do Henry, na Torre, que era provida de uma torre de defesa.  Lembrando que originalmente a casa tinha apenas o andar térreo, então a serventia dessa coluna central me sugere muito mais uma “torre de defesa” do que qualquer outra utilidade. Apesar de que nunca soubemos que Henry tenha sofrido nenhuma agressão, ele viveu num período muito agitado em Pernambuco, quando floresceram idéias nativistas e sentimentos xenófobos no seio da sociedade pernambucana.

 

Diário de Pernambuco traz ainda outra notícia da mansão

Há 150 anos       Quarta-feira, 13 de março de 1861

 

    “Revista Diaria – Aguas accumuladas – Informam-nos que com as chuvas cahidas, acha-se a estrada da Ponte d’Uchoa, do sitio do Sr. Gibson para diante, em completa intransitabilidade, por haver ter sido tomada pelas aguas em toda a sua extensão. Este estado deve ser remediado com algum serviço alli, porque se com as pequenas chuvas tem-se formado um lago, quando começar verdadeiramente o inverno, as aguas se accumularão e tomarão um volume, que interceptará no todo o transito. Hoje já é difficultado o transito dos carros, assáz para quem anda a pé.”

 

Acredita-se que a mansão teria frente para a Av. Rui Barbosa e fundos para o Rio Capibaribe, com acesso exclusivo a este. Na época do Henry, usava-se o Capibaribe como balneário e em suas margens, belas residências foram edificadas. Era onde a Sociedade Pernambucana de então passava os verões, fugindo do calor. Luís (Gibson) Lemos Milet, arquiteto por profissão e que foi pesquisador de nossa família, nos informa que: “Sobre esta casa, salientamos que sua fachada principal, semelhante a outras construções do mesmo período, está voltada para o Rio Capibaribe, que era então a principal via de acesso a região”. A mesma noticia nos fornece Mario Sette no seu livro ARRUAR, onde apresenta (pagina 13) as seguintes fotos com legenda:

 

 

Bom, se na época a fachada principal era voltada para o rio Capibaribe, hoje em dia não é mais. A família Batista da Silva transformou a parte limítrofe com o rio, em área de lazer íntimo da família.

Mais ao lado, residia Eduardo Cândido de Oliveira, cunhado de Henry (irmão de Alexandrina Rosa), em uma mansão presenteada por seu sogro, o Barão de Beberibe, que foi proprietário do Banco Comercial de Pernambuco. Eduardo cedeu graciosamente parte de seu sítio para permitir a ligação da Av. Rui Barbosa com a Av. Rosa e Silva e por reconhecimento a seu ato, esta nova rua recebeu do poder público o nome de sua esposa, Amélia. Esta casa hoje abriga o Museu do Estado de Pernambuco. Um dos filhos de Eduardo, Henrique Cândido de Oliveira casou-se com a sua prima Elvira Gibson Magalhães, filha de Elisa Gibson e de Bento Magalhães, que deram origem ao Ramo Gibson Magalhães.

 

 

 

Uma outra importante mansão de Ponte D’Uchoa, datando da mesma época, foi a residência do Barão Rodrigues Mendes que hoje abriga a Academia Pernambucana de Letras. A mansão foi projeto de Louis Léger Vauthier, um engenheiro e político francês, conhecido no Brasil por ter projetado importantes obras durante o século XIX em Pernambuco, tais como o Teatro de Santa Isabel, a Ponte Santa Isabel, a Ponte pênsil de Caxangá, a Casa de Câmara e Cadeia de Brejo da Madre de Deus, o Mercado de São José e várias residências às margens do Rio Capibaribe, onde – conforme dissemos, seus proprietários recebiam suas visitas através do rio. O Barão Rodrigues Mendes, português que enriqueceu no comércio de Pernambuco, era o maior proprietário de terras em Ponte D’Uchoa. Foi ele que por doação de uma parte de seu sítio, permitiu a abertura das Ruas do Futuro e Dr. Malaquias (homenagem a um de seus genros). Um dos netos do Barão, Eugênio Mendes Jacques (filho Pedro Van der Lei Jacques e de Elisa de Rodrigues Mendes), casou-se com nossa prima Julieta (Xavier) Gibson Jacques, iniciando o Ramo Gibson Jacques.

 

 

Como dissemos, o terreno onde está edificada a Mansão Henry Gibson, era muito mais extenso. Parte destes terrenos foram leiloados pelos herdeiros, antes mesmo da venda da casa. Temos anúncio do leilão em jornais da época e conduzido também pelo leiloeiro Francisco Gomes de Oliveira, tio de Alexandrina e testamenteiro de Henry Gibson. Foi o tutor dos filhos de Henry após a morte de Alexandrina.

E ainda parece-nos que partes menores do terreno remanescente foram usadas posteriormente para construção de outras residências, provavelmente para atender parentes dos atuais proprietários da mansão.

Quando eu ainda residia em Recife – no inicio dos anos 70, cogitou-se na imprensa a possibilidade da casa ser desapropriada e nela funcionar a residência do Governador de Pernambuco, ficando o Palácio do Campo das Princesas como Palácio dos Despachos.  A idéia não prosperou.

Ainda me referindo à casa, nossa prima Zenaide Jacques Carneiro Leão, quando solteira, em uma festa na mansão, comentou com Jorge Batista da Silva: “Um dia esta casa volta a ser nossa”.  –“Nunca!”, teria o mesmo respondido.

A Mansão de Ponte D’Uchoa foi a segunda residência de Henry & Alexandrina. A primeira, adquirida dos Chacon, também ficava na Madalena e foi onde nasceram os primeiros filhos.

A Mansão desperta em muito a curiosidade dos recifenses e frequentemente a mídia local publica reportagens sobre a mesma. É tema também na Faculdade de Arquitetura de Recife. O site “Antes que Suma”, que tem como foco o registro fotográfico dos casarões do Recife, fez um artigo sobre ela em 2016 e tiveram no facebook mais de 100 mil visualizações de imediato, tendo sido o maior da história da página.

 

 

 

Mais informações:
Fonte:
https://familiagibson.com.br/
Foto:
Pedro Carvalho