CRUZ DO PATRÃO, LOCAL DE MISTÉRIOS QUE ASSOMBRA O IMAGINÁRIO POPULAR DO RECIFE
Compartilhe essa notícia
CRUZ DO PATRÃO, LOCAL DE MISTÉRIOS QUE ASSOMBRA O IMAGINÁRIO POPULAR DO RECIFE

 

 

 

 

 

 

CRUZ DO PATRÃO (1745-1776)

Datada do século XVIII (1745-1776), o marco é formado por uma negra coluna dórica, tendo no alto uma cruz. Servia de ponto de balizamento para a entrada dos navios no porto a partir de seu alinhamento com a torre da igreja de Santo Amaro das Salinas. A coluna foi construída no meio do istmo, mas atualmente se encontra a beira do cais que a protege da erosão fluvial. Este secular monumento era lugar de execuções capitais e, pela sua localização fora da cidade, local de mistérios que assombravam o imaginário popular.

É uma coluna, tendo no alto uma cruz erguida, à margem esquerda do Rio Beberibe, no istmo do Recife a Olinda, entre as fortalezas do Brum e Buraco.

Aquela coluna desde muito tempo é uma baliza para os navios que demandam o porto, quando coincide em linha reta com a capela de Santo Amaro das Salinas.

A coluna foi construída no meio do istmo, mas de presente se acha quase que fora do mesmo, em virtude da perda constante de terreno desagregado pela corrente do Rio Beberibe.

Nada consta de positivo sobre a construção da Cruz do Patrão, entretanto já existia em 1816.

O monumento não tem inscrição alguma, notam-se, porém, no alto da cruz, em ambas as faces, as iniciais – I.NR.I. – dispostas em duas linhas.

Em alguns documentos posteriores aquela época se encontra o monumento designado pelo nome de Cruz do Patrão Mor -, o que parece indicar haver sido construída por algum patrão mor do Porto do Recife, cargo este que existe pelo menos desde 1654.

Era nas imediações da Cruz do Patrão, que se enterravam os negros novos ou escravos que chegavam da costa da África e que morriam pagãos, e também onde se executavam as penas capitais de fuzilamento impostas aos militares.

A Cruz do Patrão, construída no istmo que liga o Recife à Olinda, está localizada ao norte do Forte do Brum e ao sul do Forte do Buraco, edificado pelos holandeses no século XVII e hoje desaparecido. Trata-se de uma pesada e alta coluna dórica, feita de alvenaria, com seis metros de altura e dois de diâmetro, tendo em cima uma cruz de pedra.

A cruz original era de madeira e, segundo Pereira da Costa, o monumento teria sido construído, no início do século XIX, possivelmente em 1814, para servir de baliza às embarcações que entravam no porto do Recife. O nome indica patrão-mor, mestre de barco.

Segundo a tradição, o local é tido como mal-assombrado, porque era onde se enterravam escravos que morriam ao chegar da África. Por ser um lugar ermo, nas suas proximidades ocorriam, também, vários assassinatos e fuzilamentos.

As pessoas que iam do Recife à Olinda à noite, evitavam passar por perto da Cruz do Patrão, pois havia uma crença que se o fizessem, ouviriam gemidos angustiantes, veriam almas penadas ou seriam perseguidos por espíritos maléficos.

Gilberto Freyre, no seu livro Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife, diz que na época colonial, no local onde hoje se encontra a Cruz, os negros se reuniam para fazer catimbó e que certa vez apareceu o diabo, pegou uma “negra de toutiço gordo e sumiu com ela no meio d´água. Tudo isso, entre estouros e no meio de muita catinga de enxofre”.

Maria Graham, uma inglesa que visitou o Recife, conta no livro de viagens que escreveu sobre o Brasil do século XIX, que viu no local cadáveres mal enterrados, com pés e pernas sobre a terra.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a 2ª Companhia Independente de Guardas foi encarregada de fazer a proteção do porto contra os alemãs. Os soldados temiam guarnecer a Cruz, muito mais pelos mal-assombros do lugar do que pelos possíveis invasores.

Roberto Beltrão do Recife Assombrado conta que:

“À noite, o local é dominado por uma quietude solene e misteriosa, quebrada apenas pelo vento quando assovia sua canção tristonha. No Porto do Recife, às margens do Rio Beberibe, reina a Cruz do Patrão – lembrança concreta do passado imponente da capital pernambucana.

Mas o monumento é mais do que uma testemunha silenciosa de épocas remotas. Através de gerações e gerações, foi considerado um ponto de encontro com almas penadas, um sítio tomado aparições espectrais, sons de gemidos e arrastar de correntes: o lugar mais mal-assombrado da cidade.

A Cruz do Patrão é na verdade uma coluna de alvenaria construída em estilo dórico, com seis metros de altura e dois de diâmetro. No topo tem uma pequena cruz de pedra, o que a torna semelhante ao “bispo” do jogo de xadrez. Em séculos passados, era usada como referência para os navios que precisavam atracar. Alinhado à cruz da velha igreja de Santo Amaro das Salinas, o marco orientava o patrão da embarcação no canal de acesso do ancoradouro interno do porto recifense. E “patrão da embarcação” era um termo náutico para designar o chefe da guarnição de um barco pequeno.

Não há como dizer em que ano ela foi erguida no deserto istmo (uma estreita faixa de terra) que antigamente ligava o Recife a Olinda. Mas a Cruz do Patrão já estava registrada em um mapa confeccionado no ano de 1759. Com o passar das décadas, a coluna feita para viabilizar a navegação transformou-se em sinônimo de fantasmagoria.

Os recifenses acreditavam que naquelas imediações eram enterrados negros pagãos mortos durante as jornadas dos navios chegados da África. A areia da maré facilitaria os sepultamentos realizados sem os devidos ritos religiosos. E por isso aquele canto se tornou amaldiçoado. No livro “Assombrações do Recife Velho”, Gilberto Freyre nos fala sobre essa crença popular: todo aquele que passasse pelas imediações da Cruz nas chamadas “horas mortas” veria fantasmas ou seria perseguido por terríveis espíritos. E muitos dos que caminharam por lá em meio às trevas noturnas teriam desaparecido sem deixar vestígios.

E é certo que ocorreram fatos trágicos aos pés da Cruz do Patrão. No começo do século XX, por exemplo, um estudante foi assassinado naqueles ermos e um soldado foi preso acusado pelo crime. Tempos depois se descobriu que o culpado seria outro sujeito – ele teria confessado que praticou o crime motivado por um “espírito infernal”. A revelação, no entanto, chegou tarde demais, pois o soldado acabou morrendo na cadeia.

Na obra “Folk-lore Pernambucano”, o historiador F. A. Pereira da Costa esclarece que a fama macabra do lugar acabou se tornando muito forte do imaginário recifense: dizia-se que quem estava “em busca de venturas” poderia ir à Cruz do Patrão e, à meia-noite em ponto, firmar com o Demônio “um pacto solene com sangue de suas próprias veias” para alcançar sorte e riqueza. Cruz Credo!

Pesquisas arqueológicas recentes não demonstraram nenhum indício de qualquer cemitério clandestino no entorno da Cruz. Entretanto é difícil negar a existência de alguma relação do monumento com o sobrenatural. Como explicar que tenha resistido por séculos às investidas da maresia, às constantes reformas no terreno e principalmente à falta de cuidado das autoridades com muitas das construções históricas?

Mesmo quase esquecida pela população, a coluna gigante jaz impávida, adornado com a sua beleza austera o cenário retilíneo e acinzentado do Porto do Recife. Se você sentir impulso de chegar mais perto, a recomendação é que o faça durante o dia, no máximo até o porto do sol, para ver como o crepúsculo pinta de tons belos e sinistros aquela região na cidade. Quando cai a penumbra, a Cruz do Patrão se torna domínio de todo tipo de fantasma e assombração. Pelo menos é o que ainda garantem alguns…melhor não arriscar, não é?”

A Cruz do Patrão tem também a sua parte romântica, as suas lendas e tradições populares, de cujo assunto se ocupou Franklin Tavora.

Eis a mesma lenda:

“o Beberibe é a mais rica e bela página da história do domínio holandês nas províncias do norte do Brasil. Cada uma das suas ilhas representa um capítulo da homérica epopéia que por muito trouxe assombrado o velho mundo no Século XVII. A Cruz do Patrão, posto que não houvesse figurado nesses tempos heróicos, veio a ser depois vulto importante das muitas tradições do vale do Beberibe”.

A Cruz do Patrão está situada no ístmo – gigantescos traço de união – posto de natureza entre o Recife e Olinda. É a cruz de pedra, está colocada no cimo de elevada coluna e serve para indicar aos navegantes o poço onde surgem os navios, entre o ístmo e o Recife natural, que borda a cidade. Tem ao norte, o Forte do Buraco e ao sul a Fortaleza do Brum, ali plantada pelo gênio bátavo.

O Recife e Olinda, comunicam-se assídua e diariamente pela estrada de Santo Amaro, por onde as locomotivas correm, de espaço a espaço, enchendo a margem direita do Beberibe de fumos e ruído, que indicam o percurso da civilização por aquelas solidões pitorescas.

O ístmo há de desaparecer também de todo, como desapareceu a coroa e cessou o encanto da cruz.

A proporção que Olinda aumenta ao sul e o Recife ao norte, encurta nas extremidades a língua de areia que ainda as separa. Daqui a algumas dezenas de anos, sobre sua face, ora rasa e nua, ter-se-á levantado entre as águas azuis do oceano e as águas claras do rio um quarteirão de casas gentis, de quase meia légua de comprido.

O Recife poderá então dizer à sua esposa de cara memória esta letra de um dos seus imortais poetas:

“Não nos separa
Momento algum;
De dois que fomos
Somos só um”.

 

FONTES CONSULTADAS:

https://www.orecifeassombrado.com/post/os-mist%C3%A9rios-da-cruz-do-patr%C3%A3o

A CRUZ do Patrão. Suplemento Cultural D. O. PE, Recife, ano 16, p. 10, abr. 2002.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. p. 36-37.

Fonte: GASPAR, Lúcia. Cruz do Patrão. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Mais informações:
Fonte:
https://www.orecifeassombrado.com/post/os-mist%C3%A9rios-da-cruz-do-patr%C3%A3o  A CRUZ do Patrão. Suplemento Cultural D. O. PE, Recife, ano 16, p. 10, abr. 2002. FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. p. 36-37. Fonte: GASPAR, Lúcia. Cruz do Patrão. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
Foto:
Pedro Carvalho